segunda-feira, 28 de abril de 2014

Introdução ao uso da ferramenta de ecodesign em ações preventivas ou corretivas na geração de resíduos sólidos, artigo de Roberto Naime.
A geração de resíduos sólidos geralmente surge como o primeiro, mais relevante e mais volumoso problema de gestão ambiental, principalmente nas empresas do setor coureiro-calçadista. Nessas indústrias existe uma grande dimensão na geração de resíduos, além da questão dos efluentes, que também é relevante ecologicamente.

O presente trabalho avalia como os conhecimentos do ecodesign podem ser utilizados na minimização da geração de resíduos sólidos no setor calçadista. A atenuação da geração de resíduos implica em relevante redução dos impactos ambientais, já que a indústria calçadista representa um setor que efetivamente é um grande gerador de resíduos, e desta forma responsável por degradação e poluição ambiental, mesmo quando proceder destinação final adequada a este material.

O ecodesign propõe uma solução aos crescentes problemas ambientais causados pelo acúmulo de resíduos sólidos. No ritmo de acelerado desenvolvimento industrial, não é mais possível reverter ou reduzir a produção de novos bens de consumo.

Dessa maneira, cada vez mais produtos são produzidos e cada vez mais as pessoas consomem. Geralmente esses resíduos são levados para aterros sanitários onde ficam armazenados sob a terra. Essa não é a melhor solução, a própria Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, de agosto de 2010, que ganha o número de lei 12.305, estimula a redução da geração de resíduos, a reutilização e a reciclagem de resíduos e posteriormente a geração de energia a partir dos resíduos, limitando o aterramento apenas para os materiais que não possam ter alguma outra utilização, denominados rejeitos.

Na Europa, por exemplo, não há mais espaço para abrigar aterros sanitários, o que está levando os governos a trabalharem no sentido de extinguir essa forma de disposição de resíduos.

No Brasil, por outro lado, a construção de aterros sanitários sem a devida manutenção e correta utilização, pode gerar outros problemas, como a contaminação do solo, das águas e do ar, além da produção do gás metano que ocorre em razão da decomposição do lixo, que é altamente inflamável, gerando risco de explosões. Além disso, é importante destacar que o valor cobrado para depositar resíduos em aterros sanitários é muito alto, sem contar os custos com coleta e transporte.

Apesar da existência dos aterros sanitários, grande parte dos resíduos sólidos urbanos acaba sendo depositados irregularmente em áreas não próprias para descarte de resíduos. Essa prática comina com a contaminação de áreas, inundação de cidades (de maneira que os resíduos prejudicam a escoação da água), disseminação de doenças entre a população etc.

Diante do exposto, fica clara a necessidade de utilizar o ecodesign como solução para a redução da geração de resíduos, sem que isso prejudique o crescimento econômico e industrial. A aplicação de técnicas e conceitos do ecodesign no desenvolvimento e produção de novos produtos, visando a redução da geração de resíduos sólidos tanto no pré-consumo (de maneira preventiva) como no pós-consumo (de maneira corretiva) é uma necessidade social.

De forma preventiva atuando nas fábricas no sentido de agregar novas linhas produtivas que utilizem os resíduos gerados nas linhas de produção convencionais (pré-consumo) e, portanto, minimizem o volume de resíduo a ser descartado. Os produtos desenvolvidos a partir dessa nova linha produtiva possuem grande valor agregado, uma vez que o consumidor tende, cada vez mais, a transformar seu gesto de consumo em uma atitude responsável e engajada com a preservação ambiental. Neste contexto, os atores de mercado se dispõe a aumentar a remuneração do produto, pois o mesmo ganha uma dimensão ambiental e até social, além de econômica ou funcional.

A aplicação do ecodesign em ações corretivas acontece, por exemplo, quando artefatos de couro são recolhidos por ações de logística reversa e retornam como materiais aos ciclos de produção. Esse material de pós-consumo precisa receber um novo processamento industrial para ser reinserido no mercado. A abordagem de reutilização de produtos pós-consumo, assim como nas ações preventivas, reduz o volume de resíduo descartado e agrega valor a um novo produto desenvolvido com consciência ecológica envolvendo os consumidores nas questões ambientais.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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