sexta-feira, 20 de junho de 2014

RJ: Jacarezinho, Complexo do Alemão e Complexo da Maré têm alto risco de doenças infecciosas de veiculação hídrica.
“Jacarezinho, Complexo do Alemão e Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, podem ser considerados como potenciais áreas de alto risco para o desenvolvimento de doenças infecciosas de veiculação hídrica. Isto se deve, principalmente, às condições socioeconômicas precárias em que as populações se encontram, a fragilidade destas áreas diante de eventos climatológicos extremos e a falta de equidade social no âmbito da saúde.” Os dados são da aluna do mestrado acadêmico em Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Juliana Viana. O estudo analisou 11 Regiões Administrativas (RAs) inseridas na área de influência da Estação de Tratamento de Esgoto Alegria (ETE/Alegria). A pesquisa destacou ainda a Região Administrativa de Ramos como de alto risco para o desenvolvimento de doenças infecciosas. Neste caso, o Índice de Sensibilidade ao Risco (ISR) recebe influência principalmente do indicador epidemiológico, com destaque para o risco extremo associado ao número de casos de esquistossomose e leptospirose.
Estação de Tratamento de Esgoto Alegria (ETE/Alegria) (foto: Luiz Winter / www.rj.gov.br)

“No município do Rio de Janeiro, independente dos cenários das mudanças climáticas, o setor de saneamento encontra enormes desafios para universalização dos serviços e manutenção de padrões aceitáveis de qualidade, incluindo o atendimento das Metas do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU). Os sistemas de esgotamento sanitário são bons exemplos dessa dificuldade encontrada”, explicou a aluna. Segundo ela, a grandiosidade da escala dos sistemas de coleta e tratamento implantados, a falta de recursos necessários à sua operação e manutenção adequadas e as dificuldades decorrentes das alternativas tecnológicas adotadas associadas às especificidades da cidade, resultaram em enorme complexidade e vulnerabilidade, na gestão das águas urbanas.

Conforme explicou Juliana, um dos principais projetos propostos pelo estado do Rio de Janeiro, com intuito de incentivar ações e investimentos em obras de infraestrutura sanitária foi o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), cuja principal obra foi a construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE/Alegria). O Sistema Alegria é responsável por uma vazão média atual de tratamento de 2,5 m3/s de esgoto, com redução da carga orgânica em 95%. Além disto, até 2016 o governo do estado terá implantado novos troncos coletores de esgoto, Faria Timbó e Manguinhos, ampliando em dobro a capacidade de coleta e tratamento de esgotos da estação.

No entanto, de acordo com a aluna, ao longo do processo de urbanização do município, inúmeras dificuldades de operacionalização destes sistemas se acumularam. Dentre as principais limitações técnicas destaca-se a interconexão do lançamento de efluentes sanitários no sistema de drenagem pluvial, e vice-versa, tornando-os sistemas extremamente vulneráveis. “Esta situação além de contaminar os sistemas de drenagem pluvial e os corpos d’água receptores, lesa os ecossistemas e submete as populações a riscos epidemiológicos”, comentou.

Para o estudo, Juliana analisou 11 Regiões Administrativas (RAs), todas inseridas na área de influência da ETE Alegria, na série histórica de 2000 a 2009, quanto as variáveis epidemiológica (número de casos); climatológica (precipitação, dias de chuva, temperatura máxima e mínima) e socioeconômica (educação, renda, distribuição de água, destino do lixo e esgotamento sanitário). Ao final desta caracterização construiu-se um Índice de Sensibilidade ao Risco (ISR) para doenças infecciosas de veiculação hídrica.

O estudo se desenvolveu por meio de análise da relação existente entre coleta e tratamento dos esgotos e a qualidade de vida da população beneficiada por estes serviços. A partir da identificação de áreas sensíveis ao risco de desenvolver doenças infecciosas relacionadas a água, frente às alterações climáticas – como enchentes e deslizamentos -, a aluna espera que seja possível classificar uma área de estudo quanto ao risco epidemiológico existente, identificando ainda os indicadores, sociais ou climatológicos, que necessitam de maior atenção por parte do poder público.

Em uma análise geral das RAs que compõem a área de influência da ETE Alegria, observou-se que o clima é o principal determinante da sensibilidade ao risco de desenvolver doenças infecciosas de veiculação hídrica na área de estudo, representando 44% da variância do ISR. Foi possível ainda classificar as RAs em três níveis de risco: baixo (Portuária e Centro), médio (Rio Comprido, São Cristóvão, Tijuca, Vila Isabel, Inhaúma, Méier, Jacarezinho, Complexo do Alemão e Complexo da Maré) e alto (Ramos).

Segundo a aluna, nota-se a partir destes resultados que as duas únicas RAs classificadas com baixo risco possuem efetivamente seu esgoto coletado e tratado pela ETE. Ambas localizam-se em uma área estritamente comercial, com poucos adensamentos habitacionais. Para Juliana, do ponto de vista epidemiológico estas áreas não seriam sensíveis ao risco de desenvolver doenças infecciosas de veiculação hídrica, mas em virtude da média de dias de chuva ser elevada e a deficiência nos indicadores sociais, o risco epidemiológico pode aumentar, a partir da expansão das áreas de contaminação.

A aluna acredita que a metodologia aplicada no estudo poderá ser de grande importância para a vigilância em saúde, servindo como instrumento a ser utilizado no processo contínuo de análise de informações sobre ambiente e saúde, sempre com o intuito de orientar a execução de ações de controle de fatores ambientais que interferem na saúde e contribuem para a ocorrência de doenças e agravos.

Fonte: EcoDebate

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